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Entrevista com Eduardo Usuy – Vice-presidente ACM: O médico precisa de um contrato definido, com direitos e deveres

EDUARDO USUY – VICE-PRESIDENTE ACM
Formado em medicina pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em 2001, Eduardo Usuy fez especialização e residência em Florianópolis e São Paulo. Trabalhou no SUS (Sistema Único de Saúde), em postos comunitários e emergências. Passou pelo Sindicato dos Médicos de Santa Catarina e há oito anos é diretor na ACM (Associação Catarinense de Medicina). Na opinião dele, não faltam médicos no país, mas sim políticas que incentivem os profissionais a trabalhar no interior

Jovem e engajado na luta por melhores condições do exercício da medicina, o gastroenterologista Eduardo Usuy, 38, recebeu com surpresa a Operação Onipresença, da Polícia Federal, na última semana, que levantou suspeitas sobre a atuação de 27 profissionais no Hospital Universitário. Vice-presidente da Associação Catarinense de Medicina, Usuy afirma que o caso é pontual e deve ter resolução o mais rápido possível, sob o risco de manchar o empenho dos 20 mil profissionais no Estado que já sofrem com os seguidos cortes de investimentos no setor e falta de estrutura para trabalhar, além da remuneração aquém do ideal.

Segundo a Polícia Federal, os mé-dicos assinavam o ponto, mas atendiam em clínicas particulares. O que leva um médico a fazer isso? Baixa remuneração, falta de estrutura?
Falta de estrutura no hospital público, não. Se isso realmente aconteceu, de que o médico deveria estar no hospital e estava atendendo em outro local, é injustificável. Eu tenho a impressão de que talvez a falta de estrutura no hospital limite a atividade dele, mas não sei se é esse o caso. Temos 20 mil médicos no Estado, uma imensa parte deles trabalhando no serviço público. Vale ressaltar que Santa Catarina tem os indicadores de saúde em destaque no Brasil graças à atuação de médicos compromissados, éticos, que se doam e exercem medicina como ela deve ser exercida. Então, sempre que houver algum desvio nesse caminho, com certeza mancha a classe como um todo.

O Ministério Público pediu e a Justiça determinou implantação de ponto eletrônico no HU. Como deve ser feito o controle da frequência dos médicos no hospital?
O que defendemos é que, nos hospitais públicos, isso seja da forma mais transparente e acordada possível. O médico precisa ter um contrato definido de trabalho, com direitos e deveres, com as garantias trabalhistas que qualquer trabalhador no Brasil hoje tem. Todo servidor público precisa trabalhar com transparência, e o ponto eletrô- nico hoje é realidade, tanto no setor público como no privado. Como vai se adaptar isso à rotina dos médicos, cabe à instituição. O ponto eletrônico é uma realidade.

Muitas pessoas não compreendem a rotina dos médicos. Como funciona a jornada e quando ele deve ou não estar no local de atendimento. Essa dificuldade facilita desvios?
Existem vários regimes de trabalho, a atividade médica é diferente, difícil de encaixar no padrão da maioria das profissões. E existem várias formas disso estar acordado. Por exemplo, o médico pode trabalhar de sobreaviso, algo bem definido hoje. Ele fica à disposição, próximo do local, pois a qualquer momento pode ser chamado. Outros médicos trabalham no sistema de plantão, durante a noite, feriados, fins de semana. O médico cirurgião, por exemplo, cumpre horário de trabalho fazendo cirurgias, mas o trabalho não se encerra ali, pois todos os dias faz visita ao paciente até ele receber alta. Ele ainda pode ter uma intercorrência e ser chamado para assistir aquele paciente. Existe a situação do médico professor, que está no hospital atendendo e explicando para o aluno, essa consulta pode ser mais demorada. Então, existem várias situações que precisam ser analisadas, e cabe a cada instituição, cada hospital e cada chefia de serviço ter suas regras definidas.

Qual é o rendimento médio de um médico no setor público e no privado? É grande a diferença?
São realidades diferentes. Temos um piso salarial que é da Federação Nacional dos Médicos [R$ 11.675,00], que a gente busca, que considera como justo. Mas, hoje, no serviço público, eles recebem abaixo disso na grande maioria. Na rede privada, não tem como medir pelo fato de o médico ser autônomo. Temos também a realidade dos hospitais filantrópicos, que são vinculados ao SUS. Nesse modelo, o médico trabalha como autônomo e recebe valores pelo SUS. Essa tabela não é reajustada há 20 anos. Em alguns procedimentos, esse valor chega a ser 1.000% maior na rede privada. Então, uma consulta, que brigamos no plano de saúde para ser R$ 76, o SUS paga apenas R$ 10.

Qual é o maior problema para a saúde pública no Brasil ser considerada de excelência?
O subfinanciamento da saúde no Brasil é o grande problema. Se não me engano, foram R$ 13 bilhões cortados do orçamento da saúde, na situação que nós temos hoje. Isso é o caos. Os municípios e Estados têm feito seus investimentos, e o governo federal investe muito menos do que deveria investir constitucionalmente. A classe médica, de maneira geral, vem sofrendo muito com a falta de apoio e valorização da profissão, e isso influencia. Muitas vezes, o governo coloca o médico como culpado pela situação da saúde no país, e, na verdade, é o contrário. O médico é que está sofrendo com essa situação, logo em seguida do paciente, que é o grande afetado.

 
Fonte: Notícias do dia, entrevista 15/06/2015

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