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Carta aberta da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical: Epidemia de febre amarela

O Brasil está registrando, neste início de ano de 2017, a maior epidemia de febre amarela nos últimos 70 anos, com mais de 100 casos e mais de 40 óbitos confirmados, até o momento.
A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, cujo agente etiológico é um vírus do gênero Flavivirus. É transmitida pela picada de mosquitos infectados dos gêneros Aedes, Haemagogus e Sabethes. Incide atualmente em países centrais da África e em vários países da América do Sul.
Do ponto de vista exclusivamente epidemiológico, podem ser diferenciados um ciclo urbano e um ciclo silvestre de transmissão. No ciclo urbano, o Aedes aegypti é seu principal vetor. Desde 1942, não há registro do ciclo urbano da febre amarela no Brasil. No ciclo silvestre, o vírus é transmitido nas Américas por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes e mantido pela infecção principalmente de macacos e da transmissão transovariana nos mosquitos. Outros mamíferos podem ser reservatórios, como alguns marsupiais e roedores. Os seres humanos não imunizados podem infectar-se em áreas rurais, regiões de cerrado, de matas ou de florestas. A doença é única. A diferença está apenas nos transmissores e hospedeiros principais e no local geográfico de aquisição da infecção. Desde 1937, existe uma vacina muito eficaz e bastante segura contra febre amarela, composta de vírus atenuado.
Até o momento, todos os casos registrados nessa epidemia parecem ser resultantes do ciclo silvestre, pois foram adquiridos em áreas com presença de mortes de macacos.
Todas as regiões do País apresentam áreas com possibilidade de transmissão silvestre da doença. Tendo em vista a presença de mosquitos Aedes aegypti em praticamente todas as áreas urbanas dos municípios brasileiros, existe o risco das pessoas doentes, deslocando-se para as cidades, durante o período de transmissibilidade do vírus, infectarem esses mosquitos e iniciar-se a transmissão urbana da doença.
Os casos confirmados este ano concentram-se nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, com alguns poucos casos no interior de São Paulo e no sul da Bahia.
As causas para o surgimento dessa epidemia são múltiplas, mas a principal é a baixa cobertura vacinal da população das áreas com recomendação de vacina. Se não podemos impedir a circulação do vírus em áreas de mata, podemos impedir que seres humanos adoeçam. Segundo informações obtidas, a cobertura vacinal nas regiões de Minas Gerais, onde estão sendo registrados os casos humanos, estava em torno de 45%, quando o ideal é mantê-la acima de 80%.
O controle dessa epidemia baseia-se na intensificação da vacinação da população exposta ao risco de adoecer (pessoas que vivem ou se dirigem para áreas rurais dos municípios com recomendação de vacina), como está sendo feito pelos serviços de saúde. A proteção da vacina inicia-se após 10 dias de sua aplicação.
O que fazer para impedir novas epidemias de febre amarela?

1- Manter a população vulnerável vacinada (A vacina mantem a proteção por pelo menos 10 anos). Os municípios hoje são os responsáveis pela execução das ações de controle de doenças, assistidos pelos estados e pelo Ministério da Saúde. Assim, devem aprimorar essas ações, inclusive analisando a importância de ter equipes móveis de vacinação para toda a população das áreas rurais e divulgando a necessidade da vacina para todas as pessoas que para lá se dirigem.
2- Introduzir no calendário de vacinação infantil de todas as crianças do Brasil, (mesmo aquelas que no momento vivem em áreas sem recomendação de vacina) a vacina contra a febre amarela, proporcionando gradualmente uma proteção para toda a população brasileira.
Fonte: Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

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