Nós, Médicos, temos que adquirir mais do que percepção dos conhecimentos desta nova e fantástica era da Medicina, em que retornamos aos nossos fundamentos
A mim me parece que as datas, principalmente as relativas ao passar do tempo, são janelas abertas à análise, à percepção, ao júbilo e à renormalizações, sempre presentes porém estimuladas. Reflexão histórica e viva, reflexão ao devir e viva, reflexão atual, o hoje, o operacional agindo. Ação e vida.
No quadro dos determinantes do ato médico, sempre existiu, sempre, o tecnológico, a ação direta individualizada, e o ato reflexivo/intuitivo, que além da cognição pura se entrelaça ao vivencial, ao ambiente, às conexões simbiogênicas. Fantásticos determinantes da Arte do Médico, e que historicamente o situa no topo do Panteão das Artes e Virtudes, e onde a se exercer em plenitude das sabedorias há que permanecer.
Hoje, a tecnologia adquire uma velocidade própria, a escapar à possibilidade da percepção, seja pelo volume, seja pela substituição quase imediata. Não há possibilidade de comutação, pois que o trânsito imediato nas vias neurocensoriais atende a ritmo próprio e mensurável.
A cada dia mais os sistemas de armazenamento e análise, Big Data, se ocupam da organização e oferta das possibilidades diagnósticas individualizadas e da imediata proposta terapêutica, por via da computadorização e da automação e da robótica teleoperada e intermediada.
Fantástico, operacional e sem vida. Sua busca incessante passa a ser o dever de casa, e função do Médico operacionalizado com evidências, neste nível sempre estatísticas. Os algoritmos são assim construídos e, mesmo com o aumento incrível na sua velocidade pela intercalação ao sistema binário ainda permanece quanti, firmado em números e evidências estatísticas. O Big Data é um instrumento rudimentar quando mergulhado no complexo da vida, onde se insere, onde atua o médico.
A vida, a ser buscada como fenômeno natural, e a cada vez mais nossa ciência o evidencia, não se funda no pontual, ou em sistemas simples, com origens e fundamentos detectáveis aos meios disponíveis. A vida, como os arcanos já afirmavam, é produto da integração absoluta, onde o isolar, sob qualquer aspecto, leva à desorganização e finitude termodinâmica.
Este é nosso caminho, o retorno aos fundamentos, com o aval da ciência, com a segurança do conhecimento. As doenças, e cada vez mais o sentimos, dita da modernidade, resultam do não percebermos os ambientes, e os microambientes, nos quais as células como unidades individualizadas e integradas estão mergulhadas. Conhecimento antigo, do “mens sana in corpore sano” do “não existem doenças e sim doentes”, hoje visualizado na genômica, epigenômica, modulados pela cultura e simbólico.
Fenótipo normal ou patológico, como expressão da desorganização dos sistemas ambientais, na ordem de escala do macro e do micro, sejam exógenos, sejam endógenos. Estamos, no momento, destruindo as estruturas, os complexos biológicos, por via dos comportamentos antinaturais, na contramão do processo evolutivo lento e selecionador. A neurociência, dialogando com a genômica, já nos afirmam de maneira óbvia. Nós, Médicos, temos que mais do que percepção, adquirirmos os conhecimentos desta nova e fantástica era da medicina, em que retornamos aos nossos fundamentos.
Fundir a tecnologia às exigências da conexão límbico/cortical, ou seja, às exigências do próprio processo evolutivo mamífero, do qual nos originamos e que permanecem como núcleo central, é adequá-las aos valores que nos construíram e que devem ser revistados com a possibilidade da ciência.
Amor, perdão, reverência, alegria, esperança, são valores estáveis e superiores na escala da evolução filogenética humana. São posteriores aos componentes talâmicos do medo, sexo e raiva e aos intermediários, que modulam interligados à cognição neocortical.
Felicidade é contexto, alegria e amor são fundamentos biológicos à própria vida humana.
Somos Médicos hoje, mirando o futuro.
Parabéns pelos 83 maravilhosos anos da Associação Catarinense de Medicina.
Ernani Lange S. Thiago
Diretor de Comunicação ACM
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