Um convite à secretária de Estado da Saúde

Por LENA OBST*
 
Secretária de Estado da Saúde, agora que a senhora está à frente da mais importante pasta da gestão estadual, gostaria de lhe fazer um pedido de cidadã: coloque calça jeans, tênis, camiseta e entre na emergência do Hospital Celso Ramos numa manhã de segunda-feira. O hospital pode ser outro da rede pública, assim como o dia da semana. O que é indispensável é chegar lá como uma paciente qualquer, alguém com dor e medo. O essencial é chegar apenas com a carteira de identidade, sem credencial de autoridade, sem o séquito de políticos e da imprensa que costuma acompanhar as vistorias de datas marcadas, nas quais a sujeira é escondida.
 
Prepare seu coração. A senhora vai ver pessoas abandonadas em macas nos corredores, cadeiras servindo de camas, pacientes com feridas expostas. Ouvirá gemidos e choro, gente que clama por atenção, com palavras e também com o silêncio do desalento. Verá médicos e enfermeiros tentando dar conta do recado, mas sem condições de trabalho, com carências que vão de leitos a medicamentos.
 
Sei que nada disso é novidade, pois as manchetes de jornal denunciam a gravidade da situação. Porém, ver com os próprios olhos é mais assustador. Precisar do SUS para um familiar ou amigo torna-se uma lição de vida, um soco no estômago e na consciência. Impossível não se questionar onde vai parar o dinheiro dos impostos que pagamos, onde foi investida a CPMF, onde estão os milhões prometidos nas eleições.
 
Faça isso agora, secretária, antes que os vícios do poder lhe impeçam de ouvir e de sentir. Faça isso com afeto, com o olhar feminino, capaz de entender a dor de uma mãe que pede socorro ao seu filho. Por fim, aproveite para conversar com a presidente. Não é só médico que está faltando. Estamos carentes de vontade política e de boa gestão.
 
*Jornalista, moradora de Florianópolis
 
Fonte: ARTIGOS – Diário Catarinense (31/07/2013)