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Acidentes de trânsito correspondem, em média, a 53% do atendimento dos hospitais públicos

Os acidentes ainda são o principal reflexo e problema da falta de atenção e respeito no trânsito. De acordo com as estatísticas dos hospitais, com o relato dos profissionais de saúde e dos próprios acidentados, a maioria dos acidentes continua envolvendo motocicletas, homens e jovens, entre 20 e 35 anos. Muitos deles ocorrem por imprudência e o depoimento dos envolvidos acaba sendo comum, de que nunca imaginaram que podiam sofrer um acidente, até que aconteceu. E só após o ocorrido tomaram consciência da importância do tema.
 
Os médicos que atuam nas emergências diariamente perdem as contas de quantos atendimentos de acidentes relacionados ao trânsito fazem e apontam a situação como uma epidemia, em que a vacina e cura só estão disponíveis na educação e com mudanças radicais na mobilidade urbana.
 
Libório Soncini, médico cirurgião e diretor do Hospital Celso Ramos, com 35 anos de experiência em emergência, afirma que há 20 anos só 10% dos atendimentos nos hospitais era de pessoas acidentadas. Hoje esse mesmo grupo corresponde a 53% dos atendimentos, sendo que destes 90% são acidentes com motocicletas. “Hoje o hospital é que está tratando desta epidemia não causada pela saúde, mas a vacina não está conosco. Há outras doenças para serem tratadas, mas os acidentados ocupam mais da metade do hospital. Por patologia e individualmente é o maior custo do hospital”.
 
De acordo com os médicos é difícil um acidente de trânsito sem sequelas, raramente os envolvidos saem 100% ilesos. Além disso, as vítimas não são apenas os envolvidos diretamente na ocorrência, mas também a família que dá o suporte durante a permanência no hospital e principalmente depois, no período de recuperação, que pode levar meses e ou anos.
 
Maioria só toma consciência do risco após um acidente grave
 
O problema com a mobilidade e a economia foi um dos motivos que levou Luiz Henrique Fait, 32, a comprar uma moto há mais de dez anos. Ele é pintor autônomo e quando estava indo comprar material para o trabalho, há duas semanas, um carro que vinha no sentido o oposto cortou a sua frente. O motorista do carro não prestou socorro e abandonou o veículo a poucos metros do acidente, em Palhoça. Fait teve fratura exposta, quebrou um dedo da mão e o fêmur. Ele é autônomo, mas terá sua renda comprometida porque não poderá trabalhar durante os próximos meses.
 
Após a cirurgia ele ainda precisará ficar no mínimo cinco meses em recuperação e conta com a ajuda da mãe e das irmãs. “O susto foi grande, e é triste pensar que foi por falta de cuidado de outro. As pessoas têm que ser mais responsáveis. Eu estou me recuperando, mas vi gente morrendo e muito pior do que eu aqui. Meu cunhado tem uma moto eu já disse par ele se livrar dela, rezo por ele todos os dias. A gente só se dá conta do risco quando acontece conosco”.
 
Rogério da Silva, 48, e Luiz Fernando Speranzini, 24, além de compartilharem o mesmo quarto no Hospital Regional de São José, também compartilham um sentimento de arrependimento. Os dois sofreram acidente há pouco mais de um mês, por imprudência própria e há um mês aguardam o agendamento da cirurgia no hospital.
 
Imprudência e sorte
 
Speranzini entra para a maioria das estatísticas. Ele caiu de moto e além de fraturar o fêmur, está sem o movimento de parte do braço direito. Ele é de Nova Trento e voltava para casa do trabalho de moto, a 100km/h em uma via simples não movimentada. Em uma das curvas não conseguiu desacelerar a tempo e bateu a moto no muro, por sorte sobreviveu à colisão e não atingiu mais ninguém. Sobre o motivo de tanta velocidade nem ele sabe responder ao certo, “é uma sensação de adrenalina”, resumiu. A moto já está à venda. “A gente nunca pensa que vai acontecer. Sei que tenho sorte de não ter morrido e de não ter machucado ninguém. Infelizmente só tomei consciência aqui”. A previsão dos médicos para que ele se recupere completamente é de seis meses a um ano, no mínimo.
 
A mãe dele Miria Speranzini,44, precisou deixar o trabalho na prefeitura de Nova Trento para cuidar do filho e não tem previsão de quando poderá retornar. Ela afirma que ficou com “o coração dilacerado”, quando soube. “Parecia cena de filme eu não acreditava. Quando ele reclamava de dor na perna eu dizia pra ele para agradecer pela dor porque seria pior não sentir. Serviu de lição, mas não tem como ficar tranquila”, contou.
 
A história de Rogério é ainda mais curiosa e mostra que a imprudência não é só de motoristas, mas também de pedestres e ciclistas que não respeitam as leis de trânsito. Ele admite o erro e acredita que a sua “falta de atenção” pode estar relacionado à bebida também.
 
Rogério saía da casa da irmã em um domingo à noite, com chuva, em São José e resolveu atravessar a BR 101 de bicicleta para ir para casa. Preferiu a rodovia, a dar a volta no túnel, há cerca de 200 metros de onde ele estava. Um caminhão que vinha pela pista não conseguiu desviar e atropelou o pedreiro que teve o pulmão perfurado, o fêmur e três costelas fraturadas. “A bebida tira um pouco do equilíbrio, confunde. Até vi uma luz de farol vindo longe, mas não achei que fosse um caminhão e que viria tão rápido. Fiquei com preguiça de passar pelo local certo e me dei mal. Sei que o imprudente fui eu, não estava bêbado, mas um pouquinho de bebida já deixa a gente com os sentidos diferentes”, relatou.
 
Hospitais não conseguem acompanhar o crescimento de problemas relacionados ao trânsito
 
O médico Marcelo André Ostrowski é ortopedista e traumatologia plantonista do Regional há 15 anos e afirma que o número de emplacamentos aumentou, mas as rodovias e hospitais não acompanharam esse ritmo. “Temos 90 internados para 40 leitos, 60 pacientes tem relação com acidentes de trânsito e é um dos motivos que superlota o hospital”, justifica.
 
Na chegada dos pacientes, principalmente nos casos de acidente com moto, quase todos relatam que querem deixar o veículo, mas em muitos casos não podem abrir mão porque precisam da moto para se deslocar e trabalhar. Ele mesmo conta que em função do trânsito e congestionamento diário que enfrenta para ir trabalhar já cogitou diversas vezes e comprar uma moto, mas desiste sempre que chega ao hospital: “Em uma semana pode-se consertar uma moto ou outro veículo, mas a vida não. As vezes, quando se consegue, leva três anos para ‘arrumar’ uma pessoa e todo mundo devia pensar nisso”.
 
CORRELATAS DO BISPO:
 
Motoqueiros
 
Crédito facilitado e financiamentos de longo prazo, entre outros fatores, impulsionam as vendas de motocicletas em Santa Catarina. Segundo informações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), em 2009 o Estado contabilizava 776.027 motos. Até junho deste ano, o número subiu para 955.571. Isso representa um acréscimo de 23,14% da frota nos últimos quatro anos.
 
Paralelo a isso e com reflexo direto na saúde pública, as emergências dos hospitais registram, diariamente, uma lotação por conta do número cada vez maior de acidentes envolvendo motociclistas. Do início do ano até maio, os seis maiores hospitais que integram a rede da Secretaria de Estado da Saúde (SES) realizaram 3.029 atendimentos (veja tabela abaixo).
 
Além da superlotação, os acidentes com motos acabam contribuindo também para elevar o custo das emergências dos hospitais, uma vez que as lesões causadas muitas vezes são graves por conta da pouca proteção que a motocicleta oferece.
 
Gastos com acidentes
 
Nos cinco primeiros meses deste ano, os dois maiores hospitais públicos de Santa Catarina – Hospital Regional de São José e Hospital Celso Ramos -, gastaram, com todos os tipos de acidentes de trânsito, R$ 664.738,00 e R$1.382.395,00, respectivamente.
 
Dados coletados no mesmo período revelam que os hospitais Celso Ramos e Regional de São José, ambos referências na área de ortopedia, receberam, em média, entre 400 e 550 vítimas por mês. De janeiro a maio deste ano, o Hospital Regional de São José atendeu 1.529 ocorrências. No Celso Ramos, os atendimentos chegaram a 1.110.
 
Em 2012, o número de motociclistas acidentados e socorridos no Hospital Regional de São José chegou a 3.765, com uma média mensal de 601 atendimentos. O mês de março registrou o maior número de acidentes, com 427 vítimas. O Celso Ramos atendeu 2.487 pacientes. A média mensal chegou a 398 socorros de emergência. O mês de maior pico também foi o de março, com 230 ocorrências.
 
Lesões
 
Lesões resultantes de acidentes de moto são quase sempre graves. Os traumatismos crânio encefálicos e raquimedulares são recorrentes em acidentes com este tipo de veículo. As lesões muito graves estão relacionadas às amputações de membros, e as graves referem-se às fraturas de membros inferiores. As fraturas de membros superiores são classificadas como moderadas e as luxações consideradas leves, conforme informações coletadas no Hospital Celso Ramos.
 
Justamente por causa das graves lesões, o tempo de permanência nas unidades hospitalares aumentou consideravelmente. “Antigamente, pacientes de trauma e ortopedia ficavam no máximo oito dias internados. Agora, a taxa de permanência subiu para 20 dias por conta da gravidade dos ferimentos. E a maioria dos casos necessita de cirurgia”, explica Soncini, acrescentando que, como consequência, os gastos têm crescido muito nos últimos anos.
 
Atendimentos por acidentes de motocicleta:
Unidades Hospitalares de SC
(Quantidade Acidentes de Janeiro à Maio/2013)
 
Hospital Florianópolis
143
 
Hospital Regional Dr. Homero De Miranda Gomes
2.309
 
Hospital Governador Celso Ramos
1.746
 
Hospital Infantil Joana de Gusmão
86
 
Hospital Hans Dieter Schmidt
257
 
Hospital Waldomiro Colautti
414
 
Fonte: Notícias do Dia
 
acm informa

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