“E como vai sua saúde doutor?”. Raramente escutamos esta pergunta de nossos pacientes. No imaginário daqueles que cuidamos, a saúde do médico é de ferro, inabalável. Não raro, ouvimos reclamações de pacientes, das chefias e dos colegas de equipe quando faltamos ao trabalho por estarmos doentes. Somos diariamente consultados por dezenas de pessoas que necessitam de ajuda para resolver problemas de saúde e prontamente ouvimos, perguntamos um pouco mais para entender melhor o que se passa, buscamos formas de resolver ou atenuar o sofrimento apresentado, nem sempre um problema médico.
E do que adoecem os médicos? Os médicos adoecem dos mesmos males e usam os mesmos recursos terapêuticos seguindo o padrão da população brasileira. Possivelmente, sofrendo mais no âmbito do exercício do trabalho revelado por meio do desgaste profissional ou mesmo pelo Burnout*. De maneira geral, os médicos são obrigados a vender sua força de trabalho a valores aquém do esperado e não condizentes com sua formação, são massacrados com salários infames praticados pela maioria dos gestores públicos, independente do nível de governo e não menos pelos planos e estabelecimentos de saúde privados.
Quanto vale o médico? O valor do trabalho médico é imensurável. Desde a formatura assumem grandes responsabilidades. Para além da realização profissional e pessoal, o médico almeja ganhos econômicos que possam garantir para si e sua família uma melhor condição de vida. Para tanto, em função das pressões do mercado, se lança numa extenuante jornada de trabalho com múltiplas atividades, incluindo plantões noturnos, em finais de semanas e feriados. Suas atribuições pressupõem responsabilidades pelas quais só ele responde, mesmo quando inserido em equipe multiprofissional. Frequentemente, os gestores públicos do SUS tentam substituí-lo por outros profissionais, principalmente na assistência aos mais pobres, enganando a população. Nos últimos dois anos, a situação tem sido agravada pelo Programa Mais Médicos, do governo federal, que trouxe mais de 18 mil intercambistas estrangeiros de formação duvidosa para prestar atendimento no interior e nas periferias das grandes cidades. O médico é obrigado a enfrentar todos estes problemas e, ainda assim, produzir saúde de qualidade e manter-se saudável.
Por que sofremos agressões no exercício da nossa profissão? Nós, médicos, pela missão de ajuda aos que sofrem, jamais esperamos receber dos pacientes e seus acompanhantes qualquer tipo de agressão, e assim, nunca estamos preparados para isto. Quer seja por fatores relacionados ao excessivo número de atendimentos, ou pela frustração dos pacientes por terem suas expectativas não atendidas ou pela falta de segurança em si, as agressões são sempre inesperadas e causam grande sofrimento psíquico.
Em 2005 e 2006, o Conselho Federal de Medicina (CFM) realizou levantamento das condições de saúde dos médicos brasileiros a partir de amostras aleatórias em todas as unidades da federação. Embora o número de participantes (7.700) compreenda menos de 3% do universo de médicos ativos no Brasil (281.939) quando da realização da pesquisa, esta amostra foi considerada representativa. O estudo, o qual recomendamos a leitura, utilizou instrumentos validados em pesquisas anteriores avaliando diversos aspectos: saúde geral, patologias mais frequentes, Burnout, a ideação suicida e o uso de drogas psicotrópicas. O estudo está disponível no site do CFM.
Por fim, diante disto o que fazer? A diretoria de Saúde do Trabalhador, do SIMESC, vem ressaltar a necessidade de criação de uma consciência de vigilância permanente para aquelas situações evitáveis, em especial, aquelas relacionadas às condições de trabalho, e está empenhada em criar instrumentos de notificação de doenças e agravos à saúde, além de um fluxo próprio para orientar os médicos de Santa Catarina na conduta diante de situações de agressões, contribuindo de forma mais efetiva na luta por melhores condições de trabalho e saúde.
* A síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico descrito em 1974 por Freudenberger, um médico americano. O transtorno está registrado no Grupo V da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos, provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes e se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso e que geralmente enfrentam dupla jornada de trabalho.
Autor: Renato José Alves de Figueiredo é médico de Família e Comunidade e Acupunturista e diretor de Saúde do Trabalhador do SIMESC.
Fonte: Simesc
Foto: Rubens Flôres
A ACM – Associação Catarinense de Medicina comunica com grande pesar o falecimento do urologista REGINALDO PEREIRA OLIVEIRA, aos 82 anos,...
Ler maisA ACM quer estar ao seu lado para comemorar o mais lindo Natal, junto daqueles que lhe são especiais. Da mesma forma, a ACM quer ser sua parceira...
Ler mais